sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A gente sabe que é normal, mas dói mesmo assim

Então é isso. Acho que a gente já não sabe viver sem aquela velha e surrada ideia de vai-ser-assim-pra-sempre. Vai ver a gente precise mesmo disso, dessa sensação de que podemos estender e prolongar tudo nessa linha tênue que separa o hoje dos dias seguintes. Coisa difícil é se deparar com o final, se acostumar com a ideia de que morreu, acabou, parou, sufocou, submergiu, naufragou, ou simplesmente foi embora. A gente também tem muito disso, de não saber se portar frente as despedidas.

Esse não é um texto pra falar sobre o fim de alguma coisa, mas pra contar da nossa mania de não entender os finais. Muitas vezes me disseram que tudo, algum dia ou em alguma esquina, vai acabar, adormecer, sucumbir, ou sei lá que outro verbo poderia caber aqui. Achei isso cruel demais. Não é? Mas admito, eles estavam certos. Eu vi pessoas cruzando a porta pra nunca mais voltar. Eu coloquei ponto final em algumas histórias quando já não me interessavam mais. Eu me senti abandonada, mas também abandonei. Eu chorei a morte de pessoas absurdamente amadas por mim. O fim das coisas é inevitável. Ah, e também é dolorido demais, Zé.

A gente passa a vida inteira tentando se acostumar com o que é inacostumante. Existe essa palavra? Bom, acabei de inventar. É, acaba de nascer uma nova palavra.  E isso me faz atinar para mais um fato sobre nós: a gente tem fascínio por começos. É uma plantinha que está germinando, é um bebê que acabou de vir ao mundo, é uma banda nova que a gente descobre, é um amor novinho em folha que bate à nossa porta. Entendeu, Zé?

A gente fica alucinadamente contente quando alguma coisa se inicia, nasce, brota, chega, e daí a gente se esquece de que o sol que nasce iluminando tudo é o mesmo que morre trazendo a escuridão no fim do dia. E então a gente presta tanta atenção na morte sol que nem nos damos conta de que a lua nasce logo em seguida, toda iluminada pra abrilhantar o céu. Agora deu pra entender? A gente é meio bobo, Zé. A gente ama querendo transcender a morte, a gente se apega pra não soltar nunca mais. A gente sofre por mania de eternidade.

E olha só, Zé. Cheguei ao fim do texto sem nem me dar conta. E vou terminar dizendo que a gente é assim mesmo, e não há nada de feio nisso, a gente sempre vai doer até florir de novo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tábua de salvação.


Enquanto você se aproximava, quebrando os meus muros e rompendo minha defesas, eu me perguntava se era seguro permitir que você assim o fizesse. Minha mente falava sobre loucura, mas meu coração se perdia dentro do teu abraço, se grudava na doçura dos teus olhos. Você, feito pássaro, pousou nas minhas mãos. E eu não te coloquei numa gaiola, te queria livre, mas te queria meu. Te cuidei. Passei a te esperar no fim do dia, a abrir os braços e sentir teu corpo se juntar ao meu num abraço quentinho e demorado, a olhar dentro dos teus olhos e ver toda a poesia que eu havia sonhado. Estávamos a beira daquele precipício que as pessoas teimam em chamar de amor. E a vontade de pular era incontrolável. 

Você era o cara mais incrível do mundo, parecia um desses poemas que a gente lê e fica sonhando. Mas enquanto eu fazia planos, enfeitava nossa realidade, plantava rosas brancas e alecrim no canteiro, você espalhava cacos de vidro pela casa. Você não sabe que isso poderia me ferir? Essa era a sua intenção? Enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, você estava cruzando a porta sem olhar pra trás, saindo da minha vida sem pensar duas vezes. Você, feito pássaro, tratou de voar pra longe. Ei, você não esqueceu nada? Ei amor, tem eu aqui. Me leva. Ainda sou a sua menina, a sua linda, ainda sou tão sua. O barulho da cidade agitada abafava meu grito. Na mesinha de centro tinha o copo de vinho que você não terminou de tomar, peguei e o atirei contra a parede. O vinho escorria na parede alva e eu sangrava ao ver a casa vazia.

Não havia mais nada ali além dos pedacinhos de mim que estavam espalhados por todos os cômodos. Rasguei as suas fotos, queimei as roupas que você esqueceu no armário, sufoquei as lembranças. Ou pelo menos tentei. Meus olhos já estavam num vermelho constante, meus soluços evidenciavam meu choro cansado, minha voz embargada, noites mal dormidas tentando enumerar motivos para odiar você. Embora eu já devesse estar te odiando desde aquela tarde, aquela porcaria de tarde. Me tranquei naquela dor. Fui me afogando nas lágrimas, me desmanchando de saudade, morrendo de ausência tua. Me olhei no espelho e vi meus olhos vazios, minha boca feito terra seca. O que você fez comigo? Eu pensei que você me salvaria. Mas olha só, o fôlego está me faltando, tem uma ferida latejando no meu peito e tudo isso é culpa sua. Você é um mar aberto, e eu nunca soube nadar. Suspiro. E me afogo.

Alguém me puxou pela mão e me trouxe de volta a superfície. Estou respirando outra vez.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sábado à noite e o sofá da minha casa



Ele estava lá, deitado no sofá com as pernas jogadas, o cabelo criteriosamente bagunçado e olhar perdido em algum programa da televisão. Cheguei mais perto e pedi um espaço pra deitar junto dele. Meu pijama do bob esponja o fez sorrir, ele disse que eu nunca cresço. Agora me diz, isso é bom ou ruim? Ele disse que é bom, disse eu sou a menina dele. Gosto quando ele diz isso. O abraço quentinho dele ali no meu sofá me fez adormecer mas ele logo me acordou, pediu café. Não gosto de café e ele sabe onde é a cozinha, então não preciso levantar né? Não fui fazer. Eu fiquei o avistando dali. O meu menino estava na minha cozinha, na minha casa. Ele parecia contrariado e aquela carinha me fez o amar ainda mais. A camisa surrada da banda que ele mais gosta, a falta de jeito pra fazer um simples café, o bocejar de preguiça e não de sono, os olhos que vez ou outra vinham em minha direção, o sorriso disfarçado ao perceber que eu o admirava, tudo. Tudo nele é absolutamente encantador, é avassaladoramente cativante. 

Sentou-se ao meu lado, na mão tinha a xícara de café quente, forte e sem açúcar, como ele gosta. Ali eu pude perceber mais uns trinta motivos para amá-lo. Vai desde o modo como segura a xícara, o modo como bebe aos poucos e lambe os lábios à cada gole, o modo como mexe no cabelo enquanto olha pro café, o modo como me olha e esboça um sorriso entre um gole e outro, o modo como segura minha nuca e se aproxima pra beijar minha testa. Essa é a imagem dele que eu mais gosto, e eu a relembro toda vez que sento sozinha nesse sofá. Ele terminou o café, deitou-se no meu colo e ficamos aconchegados ali, assim. Na tv passavam algumas bobagens e a gente assistia se perguntando o porquê de estarmos assistindo. Desliguei a tv e ele me olhou com uma carinha de 'para de ser chata, amor' e eu fiz uma careta de 'tô nem aí pra você'. Ele sorriu. A gargalhada mais gostosa do mundo, um som que fez eco no meu corpo inteiro. Ele contou umas vinte piadas, todas ridiculamente sem graça e eu gargalhei em todas elas. Fomos falando mil coisas, a gente conversa como dois bons amigos e nos beijamos como quem acabou de descobrir o beijo.

O jeito que ele me segura pela cintura quando quer me beijar já sei de cor. Então sorrio por ser a garota dele. Nossas bocas se encaixam perfeitamente e daqui a pouco os sorrisos nascem entre um beijo e outro, entre um sussurro e outro, entre um suspiro e outro. Meu garoto. Me dói pensar que algum dia ele pode perceber que tem mulheres melhores depois do portão da minha casa. Me faz ter medo imaginar o meu garoto indo embora, o meu sofá perdendo o nosso formato, a minha cozinha deixando de ter o cheiro do café que ele faz. Porque ele me faz querer viver pra sempre num sábado à noite e a gente tem até trilha sonora. Eu tenho vontade de pedir que ele nunca mais vá embora. Fica, meu bem. Fica aqui por mais infinitos amanheceres. Alguns raios de sol entram pelas brechas da janela e iluminam levemente o rosto dele. E eu não canso de olhar. Me sinto agraciada por poder presenciar aquilo. Recosto a cabeça no peito dele e ouço as batidas do coração. Depois da gargalhada, aquele é o melhor som que eu poderia desejar ouvir. Adormeço ali junto dele. Bem que podia ser sábado de novo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Minha prece



Essa é mais uma noite de um dia sem você. Olho pro céu tendo esperança de que você pensará em mim esta noite, antes de dormir. Queria ter você comigo aqui e agora. Queria ter você comigo aqui e agora. Queria ter você comigo aqui e agora. Meu coração sussurra essas palavras incansavelmente, como um mantra. Tem uma música tocando ao fundo, num rádio velho no canto da sala. Imagino como a gente ficaria lindo dançando essa música aqui no meio da minha casa, suspiro repentinamente. Volto a olhar pro céu, acho que tem o teu sorriso desenhado naquelas estrelas. Sei lá, essas noites em que não te encontro são vazias e aí me encho de você. Tem você por toda parte, saio juntando tudo e deito abraçando minhas pernas. Volto a repetir aquelas palavras. Queria ter você comigo aqui e agora (...) Essa é a prece mais desesperadamente sincera que já entoei. 

Saudades, no plural.
Ao meu dengo.

sábado, 5 de maio de 2012

Versinho de número um


Ele traz sol pra aquecer a minha pele e paz pra afagar a minha alma.

Ainda bem que agora encontrei você e eu realmente não sei o que eu fiz pra merecer você. (Marisa Monte)